Cinema e História: Alguns apontamentos sobre análise do texto fílmico nas aulas de História
O uso do cinema nas aulas de História como recurso didático tornou-se uma prática comum. Sempre na tentativa de tornar o processo de ensino e aprendizagem mais atraente e prazeroso para os discentes.
Os filmes há tempos são grandes artifícios didáticos para a apresentação e aprofundamento em temas da disciplina de História.
Neste texto, pretendo trazer alguns apontamentos sobre a análise do texto fílmico na exibição de filmes nas aulas de História para os estudantes do Ensino Fundamental e Médio.
Desde o século XIX, o cinema encanta o ser humano com suas imagens e suas maravilhosas histórias fictícias ou reais.
Para alguns estudiosos, a primeira exibição pública de cinema ocorreu no dia 28 de dezembro de 1895 na cidade de Paris na França. O chamado “cinematographo” criado pelos irmãos Auguste e Louis Lumière exibiu imagens curtas em preto e branco e que causaram uma grande surpresa na platéia presente.
No Brasil, somente em 1896 a “tela mágica” aportou por aqui. O exibidor itinerante belga Henri Paillie alugou uma sala do Jornal do Commercio, na Rua do Ouvidor na cidade do Rio de Janeiro e projetou oito filmetes de aproximadamente um minuto cada e que mostravam cenas do cotidiano europeu.
A exibição de filmes em sala de aula deve ser sempre uma prática pedagógica planejada. Por isto, é necessária a confecção de um plano de aula, prevendo em que momento e turma o filme será exibido.
A exibição de filmes ou documentários não devem ser utilizados como distração ou apenas como preenchimento de aulas para passar o tempo.
Para iniciar o trabalho é necessário que o educador e educadora tenha consciência do objetivo desta atividade proposta e de que forma o filme ajudará a atingi-lo.
Outros pontos muito importantes que não devem ser esquecidos. O filme é apropriado para a faixa etária dos alunos e se ele é adequado ao ambiente escolar, evitando cenas de sexo explícito, terror, violência extrema ou que agridam valores culturais, morais e religiosos dos discentes, de familiares e comunidade onde estejam inseridos.
A preparação com antecedência também é importante. Adquirir uma cópia do filme, assistir (ou assistir de novo) a obra e sempre instalar previamente os equipamentos necessários para a apresentação.
A grande dúvida que surge normalmente é se o educador e educadora utilizará o filme todo ou em trechos e se fará uso de documentários ou obras ficcionais.
Por isto, o educador ou educadora deve conhecer bem a película e fazer as escolhas mais apropriadas para conseguir o melhor resultado possível do tema abordado.
O texto fílmico pode ser entendido como a própria obra cinematográfica em seu conjunto e deverá ser lido como um texto em seus múltiplos códigos, implícitos ou explícitos.
A análise do texto fílmico tem a intenção de “desconstruir” a obra para a obtenção de um conjunto de elementos distintos do próprio filme.
A leitura de filmes deve sempre levar em consideração que o cinema tem uma linguagem audiovisual e diferenciada do texto escrito.
Neste sentido, temos três posições: o sentido do autor, o sentido do texto e o sentido do analista.
Apresento algumas etapas para facilitar o trabalho do educador e educadora na atividade de sala de aula.
Em primeiro lugar, deve-se fazer uma pesquisa sobre a fonte (filme), deve-se fazer uma reconstituição sumária da história, tentar captar a mensagem principal e reconhecer os principais personagens.
Temos então, o que chamamos de parte explícita onde verificamos a direção, a trilha sonora e atuação de atores e atrizes.
Quanto às observações implícitas estão as noções de planos (plano detalhe, grande plano geral, primeiro plano, plano americano, plano de conjunto e etc.), ângulos de enquadramentos (vertical e horizontal) e movimentos de câmeras (grua, handycam, travelling, panorâmica e zoom in/out).
O educador e educadora não precisam ser especialistas na área cinematográfica. Necessitam estar sempre abertos a novas experiências e perspectivas que esta atividade escolar trará como resultados positivos.
Outros pontos importantes a serem observados são a reação do público ao filme, vendas no mercado local e global e as críticas especializadas feitas sobre a obra.
O educador e educadora que ministra a disciplina de História não devem esquecer-se de observar o contexto histórico em que o filme foi produzido.
Depois de exibido o filme é hora de avaliar a atividade proposta.
A idéia é preparar um roteiro de questões antes da primeira exibição. Selecione textos de apoio, filmes relacionados e links da internet. Forme grupos de discussão com intuito de produzirem relatórios, a partir daí, fazendo uma ponte com o conteúdo da disciplina.
O debate em sala de aula pode girar em torno da comparação de diferentes visões da História; herança cultural; desenvolvimento de caráter e cidadania; valores éticos e projetos escolares que podem ser desenvolvidos.
Há também a possibilidade de desenvolver o chamado cinema autoral, onde os discentes são responsáveis por filmarem sua própria realidade e roteiros escolhidos por eles.
As dificuldades e desencontros para desenvolver atividades deste patamar existem e não podem deixar de ser relatados. Principalmente, em relação à duração das aulas e a falta de equipamentos e ambientes apropriados para a projeção de filmes.
Mesmo assim, acreditando na capacidade de articulação de professores, professoras, pedagogos, pedagogas, gestores escolares e o envolvimento dos estudantes podem mostrar um horizonte de experiências ricas e divertidas.
Agora é preparar a pipoca e que tenham uma ótima sessão de cinema no espaço escolar.
*Sidney Barata de Aguiar: Mestre em História Social pela UFAM. Professor da Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Estado do Amazonas (SEDUC/AM) e Secretaria de Educação do Município de Manaus (SEMED).