A INFÂNCIA MALDITA E A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Existem filmes que são emblemáticos na cinematografia brasileira. Os filmes que estão muito acima da média, são os que tocam nossa alma e nos fazem refletir profundamente sobre a nossa condição de seres humanos.
O personagem principal desta obra prima do cinema nacional é um menino pobre, morador da periferia paulistana, órfão de mãe e que desconhece o seu genitor, passou parte de sua juventude em um reformatório e tem um final trágico.
Os apreciadores do bom cinema nacional irão citar facilmente, o filme, Pixote: a lei do mais fraco.
Pixote é o personagem do livro Infância dos Mortos de José Louzeiro e eternizado nas filmagens do renomado diretor Héctor Babenco, lançado nas telas em Mas, não se trata desta película que tem como atração principal o então ator
mirim Fernando Ramos da Silva no papel marcante de Pixote. Fernando Ramos da Silva foi assassinado aos 19 anos de idade pela polícia no município de Diadema em São Paulo. Para este jovem a sua vida imitou a sua arte, literalmente.
Uma reportagem maldita - Querô é a obra literária de um dos maiores dramaturgos e atores do teatro brasileiro, Plínio Marcos (1935-1999).
Este livro ganhou uma primeira versão cinematográfica na década de 1970, chamada Barra Pesada e foi dirigida por Reginaldo Faria.
Em 2007, o diretor e roteirista Carlos Cortez traz Querô - O Filme novamente para o público brasileiro e para os amantes do cinema seu olhar sobre esta criação impactante deste artista tão controverso e criativo do quilate de Plínio Marcos.
A mãe de Querô era uma prostituta que logo após de dar a luz é expulsa do lupanário onde residia, entra em uma depressão profunda e suicida-se tomando querosene. Ele herda a alcunha de Querosene.
Jerônimo da Piedade, o Querô é criado neste prostíbulo e durante sua adolescência começa a ser vítima e protagonista de toda sorte de violências e da criminalidade que se desenvolve na região do cais do porto de Santos, cidade litorânea de São Paulo.
Na FEBEM (Fundação Estadual de Bem-Estar do Menor) ele conhece a crueza desta instituição de ressocialização com seus maus-tratos, torturas, humilhações, superlotação e rebeliões. Querô é estuprado por outros adolescentes rivais e estas lembranças o atormentam até o final de sua vida.
Neste momento que se discute a redução da maioridade penal para dezesseis anos no Brasil, devemos refletir sobre quantos Querôs iremos encerrar em grades e muralhas para escamotear a nossa total incompetência em lidar com a infância e a juventude pobre, espalhada por todas as periferias, arrabaldes, subúrbios e favelas do país.
O cinema traz a provocação e como seres políticos, podemos intervir na procura de soluções para problemas reais e na construção de uma sociedade mais justa e digna para nossas crianças e adolescentes menos privilegiados.
Sidney Barata de Aguiar: Mestre em História Social pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Professor da Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Estado do Amazonas (SEDUC/AM) e Secretaria de
Educação do Município de Manaus (SEMED). Secretario de Formação do Sinteam.