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Professores se desdobram por renda maior

10/07/2016
Manaus – A rotina diária de Janaína Barreto, 38, professora de História da rede pública municipal e estadual de ensino do Amazonas, começa às 7h, na Escola Municipal Raimunda Cerquinho, do bairro Santa Etelvina, na zona norte da capital. Durante o dia, a professora, que é mãe de dois filhos, se desloca para três zonas diferentes da cidade para trabalhar. A tripla  jornada de Janaína representa o cotidiano de mais de 8,5 mil do Amazonas que trabalham em duas ou mais unidades de ensino, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2016, elaborado pelo Movimento Todos Pela Educação.

Por mês, Janaína precisa corrigir, pelo menos, 1.038 provas e trabalhos, lançar notas de 519 alunos, ensinando 41 estudantes por sala de aula, em média. A correria de lecionar em três escolas veio com a necessidade de ganhar um salário melhor.

Atualmente, as aulas nas duas escolas estaduais rendem R$ 3.269 de salário, enquanto o ensino na escola municipal rende R$ 1,9 mil. São 13 horas trabalhadas, por dia, segundo a professora.

Por hora, Janaína recebe de dois a três centavos, por aluno. Mas, apesar do salário desvalorizado, segundo a professora, a profissão ainda consegue ser recompensadora.

“Ver nos olhos de alguns alunos a esperança da mudança de vida, ver um aluno meu de escola pública fazendo Medicina. Alunos se destacando fazendo Engenharia, essa é a verdadeira motivação e é o que faz a gente ir para frente”, disse.

Rotina pesada                                    

Ao sair da escola da zona norte, a professora tem que levar os filhos para o colégio e, em seguida, ir para o segundo turno na Escola Estadual Maria de Lourdes Rodrigues Arruda, na zona centro-oeste, onde ensina História para quatro turmas do 9º ano com alunos de 14 a 17 anos.

No final da tarde, ela consegue jantar com os filhos – um adolescente de 15 e uma menina de 6 anos. Mas, à noite, cinco turmas no Centro de Educação de Jovens e Adultos Professor Agenor Ferreira Lima (Ceja), na zona centro-sul, a aguardam.

“Vejo meus filhos nos intervalos de uma escola para outra. Sempre janto em casa e os busco no colégio. Aprendi também a não trazer trabalho para casa”, revelou.

A rotina acelerada da professora permite cerca de quatro a cinco horas de sono.

“No EJA, tenho que ficar de olho no relógio, porque os alunos são tão interessados que, se eu não cuidar, a aula vai até meia-noite, e eu acordo às 5h30”, disse.

Fins de semana cheios

Na jornada tripla ministrando aulas de sociologia em dois turnos de uma faculdade e em uma escola pública, o professor Eudes Melo, de 44 anos, também partilha da rotina corrida para aumentar a renda.

Com carga horária de trabalho em torno de 11 horas por dia, Eudes afirma que possui renda de R$ 6.634 graças às aulas para o Ensino Superior, já que as aulas na escola pública rendem R$ 1.634 mensais.

De acordo com Melo, os finais de semana e até mesmo os feriados também são utilizados para a correção de avaliações e leituras de trabalho.

“Preciso descansar menos para preparar aula, elaborar as provas. Eu, particularmente, faço nos fins de semana e feriados, além do período da noite que utilizo para corrigir os trabalhos e provas”, relatou.

Dura realidade

Para o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas (Sinteam), os 8,5 mil professores que trabalham em dois ou mais unidades de ensino representam uma dura realidade.

“É impossível você viver com R$ 1.600. Para aumentar a renda, o professor é obrigado a trabalhar nos três horários, ou mínimo de dois horários. Uma rotina nefasta, um mal necessário em termos de renda e que gera um conjunto de síndromes e doenças ao longo dos anos”, disse o presidente interino da entidade Cleber Ferreira.

Com o piso salarial estadual em R$ 1.548 no início de carreira, o quantitativo de professores em duplas e triplas jornadas é reflexo da desvalorização do educador no Estado, avalia Cleber Ferreira.

Reajuste salarial

Depois de seis rodadas de negociação, a categoria fechou acordo com  a Prefeitura de Manaus para o reajuste salarial de 9,28% dos trabalhadores da rede municipal de ensino, com data-base em 1º de maio. Mas, na rede estadual, ainda não houve definição.

“Temos lutado pelo plano de saúde dos professores que estão adoecendo de doenças da educação, como problemas nos braços, na garganta, por causa da escrita no quadro e por precisar falar o dia todo, mas isso nunca foi aprovado nem mesmo quando a arrecadação (estadual de impostos) estava nas alturas”, disse.

Fonte: Jornal Diário do Amazonas
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